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[Sinestésico] Literature-se!¹ - Três Leitoras

08out2017

[Sinestésico] Literature-se!¹

Por João Moreno

De acordo com o dicionário Houaiss, a palavra Literatura – um substantivo feminino que provém do latim literatura – , pode ser definida como. Substantivo feminino, lit, uso estético da linguagem escrita; arte literária. “Tendências da literatura.” Conjunto de obras literárias de reconhecido valor estético, pertencentes a um país, época, gênero etc. Medieval. O termo provém do latim litteratura, “arte de escrever literatura”, a partir da palavra latina littera, “letra”.
Para o professor e ensaísta Afrânio Coutinho, em suas Notas de Teoria Literária, a leitura invoca uma capacidade transformadora de transfiguração e recriação da realidade. A Literatura, como toda arte, é uma transfiguração do real, é a realidade recriada através do espírito do artista e retransmitida através da língua para as formas, que são os gêneros, e com os quais ela toma corpo e nova realidade. Passa, então, a viver outra vida, autônoma, independente do autor e da experiência de realidade de onde proveio”, afirma o crítico brasileiro.
         Muito antes do pensamento ou intenção da produção de instrumentos e materiais para escrever e imortalizar-se à Literatura, já existiam bibliotecas na Antiguidade repletas de textos gravados em tabuinhas de barro cozido.
O livro – produto industrial e impresso, não periódico, que consta de no mínimo 56 páginas, sem contar capa – tornou-se mercadoria cultural numa sociedade pautada pelo consumo, com maior ou menor significância, de acordo com o ambiente socioeconômico onde está inserido. Um produto atemporal, que é utilizado como ferramenta de registro significativo de um momento histórico e cultural de determinada época, que sobrevive à extinção de sociedades. Nesse contexto, o livro cumpre sua função: informar, contar e transformar.

“Na literatura podemos mais. Tanto podemos viajar na trama, ideias e estilística criada por outrem, quanto podemos criar nossos universos possíveis e impossíveis. Assim, a literatura nos potencializa no tempo e no espaço, liberta-nos do “ter que…” e isto tem poder de cura”.
Profª Drª Adélia Freitas

Uma enorme transformação ocorreu no universo literário desde o seu surgimento. Escritores e ideias eram amplamente difundidos e discutidos antes de serem publicados, restrito a um círculo social e excludente aos demais até meados do século XV. Com a prensa de Gutemberg, a laicização da literatura e o surgimento de novos escritores, surgiu a possibilidade da consolidação de uma literatura nacional e a criação de obras que fugiam do grego e latim. A publicação aumentou de forma exponencial: 20 milhões de livros para uma população de aproximadamente 10 milhões de pessoas, com a popularização de obras religiosas, novelas, coleções de anedotas, manuais técnicos e receitas.
A partir do século XIX, o livro não apenas passou a ser utilizado como meio de divulgação das modificações socioculturais e econômicas, como passou também a significar uma conquista para o homem através do conhecimento. O livro passou a ser interpretado como um símbolo de liberdade, através de inúmeras conquistas culturais.  Mudanças, diga-se de passagem, restritas a Europa.
O advento da Primeira Guerra Mundial (1914-1918) e a produção e tiragem de um único livro possibilitaram o seu barateamento, popularizando algo que antes era considerado objeto raro, atingido por pequenos grupos eruditos.  Uma nova tendência pode ser percebida: o uso da Literatura como meio construtor de uma nova realidade, perspectiva corroborada pela professora Drª da Faculdade de Comunicação da Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO), Adélia Freitas.
De acordo com a educadora, a Literatura e a Leitura, tornam-se uma força e passa a ser usada como meio de ascensão social.  “Acredito muito na literatura como instrumento de construção de possibilidades e realidades. Vejo nela uma aproximação maior de nossa origem guardada lá por traz de nossa consciência”. Como uma nova geração de alunos enxergam essa possibilidade, complementa. “Infelizmente, nessa fase do ensino formal, a maioria dos jovens vê a literatura como peso, tarefa a ser cumprida, necessidade nunca alcançada. Mas responsabilizá-los, simplesmente, não resolve o problema. Os jovens precisam furar paradigma. É preciso ser mais que jovens, é preciso ter discurso próprio e não papagaios de redes sociais. É preciso procurar mais cultura na internet que internet na cultura.” E finaliza.
“Literatura é uma necessidade da alma, pois somos animais linguísticos, ou seja, somos os únicos animais capazes de ler e escrever, logo, pode-se dizer que a literatura é uma necessidade da natureza humana e ponto. É isto que somos: Seres, previamente “fabricados” para ler e escrever“, completa a professora. 
Em uma sociedade capitalista pautada pelo consumo, percebe-se uma desvirtuação de uma função-social: de símbolo de status e cultura, à redução para livro-objeto.  E ainda assim, a Literatura é o mais durável dos bens. As melhores produções sobrevivem a seus criadores e a cada nova geração de leitores. Como prova, os atemporais Dante, Cervantes, Goethe, Austen, Dickens, Dostoievski, Machado, Proust, Woolf, Joyce, Borges, Hemingway, Neruda, Camus, Saramago, Márquez, Palahniuk, Tolkien, Murakami e Rowling.
         A capacidade transformadora da leitura, entretanto, alcança horizontes incomuns e, muitas vezes, não imaginados. Uma força de transformação sentida pela gerente financeira Bruna Nunis, 27, que percebeu na Literatura uma capacidade de criar, transformar, e recriar o seu ‘universo’. “A literatura salvou-me de um início de quadro depressivo. Através dela, temos contato com novos vocábulos e culturas, tornando-nos mais críticos e integrados a nossa sociedade. Alargamos o que antes era estreito. Renascemos”, afirma a jovem em sua casa, rodeada por imortais em uma estante que transborda, transcende vidas. 
O livro é, antes de tudo, funcional.  Seu conteúdo é que lhe dá valor. Como escreveu o romancista, biógrafo e crítico britânico Peter Ackyroid, no Prefácio do (insuficiente) 1001 livros para ler antes de morrer. “De algum modo o deleite de ler um romance permanece. É um prazer silencioso, fruto da solidão ou concentração, fomento de fantasias e reflexões, amante das paixões e instigador de aventuras e mudanças. Realmente capaz de mudar vidas”.

Nota

1. Reportagem escrita para o meu projeto de webjornalismo, o portal acadêmico que reúne conteúdos de jornalismo e literatura; o Literature-me!, que continua ativo, e tem muito conteúdo bacana, sensacional. Para quem ainda não entendeu, trata-se de um convite - informal demais, sabemos -, para uma breve visita e, quem sabe, uma favoritada no Google + e outros.  Repostei ela aqui pois foi escrita há mais de um ano - uma das características da Grande Reportagem é a sua atemporalidade - e, desde então, tivemos muito menos que dez visualizações. Também, não sei  o porque, mas acho este um trabalho sensacional, daqueles que merecem a minha estrelinha no Lattes. Espero que gostem e, se não for pedir demais e se ainda não estiverem muito cansados de minha 'voz', comentem aí embaixo, o que acharam à respeito? 

Mais difícil que escrever sobre Literatura é, para mim, encontrar uma imagem que consiga compactuar com algo que as palavras, muitas vezes, não consegue dimensionar. Na imagem, um muro não especificado pintado em forma de grandes clássicos. Imagem de Internet. Reprodução.



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